Esses dias caiu nas minhas mão um artigo muito interessante. Sinceramente, eu não me lembro onde foi e muito menos quem escreveu, de qualquer jeito, ele me chamou a atenção para um fato muito importante que simboliza muito bem os tempos modernos.
A reportagem falava dos pais de um garoto americano que morreu em um acidente de carro, um drama que acontece há muito tempo e em qualquer lugar do mundo. Fatalidades acontecem, o curioso é que hoje em dia quando alguém morre, ele deixa muita coisa registrada -Orkut, Twitter, Facebook, blogs e outras redes sociais que deixam ali nossos pensamentos e sentimentos- o que torna o seu perfil uma espécie de altar virtual. Os pais do rapaz usam a página do Facebook para se sentir mais perto do garoto, leram seus recados, pesquisaram as suas comunidades e aplicativos que ele usava, tudo na tentativa de entender a intimidade do filho, uma maneira desesperada e ao mesmo tempo compreensível de não deixar a pessoa querida ser esquecida. O problema é que o tempo passou e o casal não superou a dor, pois vivia uma ambiguidade. O filho estava morto no mundo real, mas vivo no virtual.
Senti isso ao receber a notícia da morte uma amiga, não eramos muito próximos, mas mesmo assim senti aquele gosto ruim da perda, que chega amargo na boca e se espalha no estômago assim como um licor ruim. Fiquei muito triste com o que ocorreu e sabe a primeira coisa que eu fiz? Foi acessar a página dela no Orkut, lá vários scraps de amigos e parentes, falando diretamente para ela como se ela ainda estivesse viva, lamentando junto com ela a sua morte, apenas dois scraps foram o suficiente para dar um nó na minha garganta.
O que me leva a fazer diversas perguntas: o que deve ser feito com estes perfis? Existe alguma política dentro do Google por exemplo em relação a conta de uma pessoa que morreu e levou a sua senha com ela; e a família tenha o direito de encerrar o perfil? Você pode perceber que quando o assunto é morte, nada é fácil.
Para linkar o assunto, fiquei sabendo que o Van Gogh Museum disponibilizou todas as cartas escritas e recebidas pelo pintor holandês. Um registro importante não apenas por ele ser um dos maiores artistas da história ou por ele nunca ter vendido um quadro durante a sua vida, mas sim, por deixar registrados seus pensamentos numa época em que as pessoas não deixavam muitas coisas pra trás quando morriam.
Muito diferente de hoje.